7
2
R
E
G -
5
4
9
.3
0
7
- C
O
PY
R
IG
H
T - B
0
0
1
Um Pouco da História da
Loucura e da Psiquiatria
Esse texto que será apresentado foi organizado pelo Grupo de Trabalho em Saúde Mental (GTSM)
da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz, a partir do livro “Temas
de Saúde Mental – textos básicos CBAD” (Brasília, 1998). Rio de Janeiro – 2002
2.1 - A Loucura Através dos Séculos
O modo como a loucura é vista hoje não é o mesmo de séculos anteriores. O jeito de entender,
de tratar, de lidar e de olhar a loucura foi se modificando, como tudo o mais se modificou no mundo:
valores, cultura, avanços na área médica, etc.
Por exemplo, na Grécia antiga o louco é considerado uma pessoa com poderes divinos. Acredita-
se que as frases enigmáticas (na realidade incompreensíveis) dos loucos aproximam os homens das
ordens dos deuses. A loucura encontra então, nesse período, espaço para se manifestar, não sendo
necessário controlá-la ou excluí-la, pois ela é transformada pela cultura em um instrumento necessário
para que se compreendam as mensagens divinas.
Indo mais adiante, chegando à Idade Média na Europa, que é marcada pela peste e a lepra, a
loucura é vista como expressão das forças da natureza, como algo não humano. Mais uma vez, os
homens acreditam que a fala incompreensível dos loucos significa entrar em contato com o estranho
e tentar entender seus mistérios, ouvindo a verdade do mundo.
Mais adiante, a loucura deixa de ser um instrumento das forças da natureza e ganha um caráter
moral. Começa a ser entendida como o contrário da razão e passa a ser vista como um conjunto dos
vícios dos homens, como a preguiça.
No século XVII, com o mercantilismo, período onde domina o pensamento de que a população
é o bem maior que um país pode ter, começam a ser encarcerados todos aqueles que não podem
contribuir para o movimento de produção, de comércio ou de consumo de mercadorias.
Nesse momento a exclusão se dá devido à mudança na relação do homem com o trabalho, à
necessidade de uma disciplina e de um novo controle social. São criados então, em toda a Europa,
estabelecimentos de internação, para onde são enviados os velhos e crianças abandonadas, os
aleijados, os mendigos, os portadores de doenças venéreas e os loucos. Esses locais eram depósitos
humanos, não havendo nenhuma intenção de tratamento. Os encarcerados eram obrigados a
trabalhos forçados, que serviam como punição ao que era considerado o maior vício da sociedade
mercantilista: a ociosidade.
Essa “limpeza” das cidades acontece até a Revolução Francesa em 1789.
A Revolução Francesa tem como lema as palavras de ordem igualdade, liberdade e fraternidade.
Tal lema não combina com a exclusão que tinha ocorrido anteriormente, de internação dos que não
tinham capacidade de produção e consumo, a qual representava o antigo regime opressor. Inicia-se
então, um processo de reabsorção dos excluídos, buscando-se alternativas para os “necessitados”, tais
como auxílios financeiro e médico em suas próprias casas. Nesse momento, os loucos permanecem
encarcerados, já que são considerados perigosos para o convívio social.
Antes do final do século XVIII, a medicina não tinha se interessado, especialmente, em saber o quê
e o por quê do que dizia o louco. Apenas no final desse século, com Philippe Pinel, é que se difunde
uma nova concepção de loucura.
Pinel fundamenta a alienação mental como sendo um distúrbio das funções intelectuais do
sistema nervoso. Define o cérebro como sede da mente, e na mente se manifesta a loucura. Divide os
sintomas em classes: mania, melancolia, demência e idiotismo.