Capítulo 2

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Considera a loucura como um desarranjo das faculdades cerebrais, cujas principais causas seriam: 

Causas físicas: de origem cerebral, como pancada na cabeça, formação defeituosa do cérebro 
e hereditariedade; 
Causas morais: consideradas as mais importantes, são as paixões intensas e excessos de todos os tipos. 

A loucura adquire então o estatuto de doença mental, que requer um saber médico e técnicas 

específicas, ou seja, nesse momento, fica também constituída a psiquiatria como saber médico, 
que tem como seus principais representantes Pinel, na França, Tuke na Inglaterra, e posteriormente 
Esquirol, considerado um dos maiores teóricos dessa primeira escola psiquiátrica - o alienismo. 

O alienismo se baseia no entendimento da loucura enquanto desrazão, ou seja, alienação mental. 

O tratamento vai ser baseado no Asilo, que vai ter, por si só, uma função terapêutica. A organização 
do espaço asilar e a disciplina rígida vão ser elementos importantes do tratamento, que consiste 
em confrontar a confusão do louco, sua desrazão, com a ordem do espaço asilar, e com a razão do 
alienista, que, para tanto, tem que ser uma pessoa de moral inatacável. 

2.2 - Um Breve Histórico da Psiquiatria no Brasil

A chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808, provoca profundas transformações 

econômicas e políticas. Abrem-se os portos às nações amigas e firma-se um tratado comercial com a 
Inglaterra, provocando um rápido progresso no país. A imprensa começa a funcionar, funda-se o Banco 
do Brasil, criam-se as escolas médicas e a Biblioteca Pública (atual Biblioteca Nacional), constroem-se 
as primeiras estradas, e as primeiras indústrias (siderurgia e construção naval) começam a funcionar. A 
mão-de-obra, até então escrava, começa a mudar de perfil com a chegada dos imigrantes. 

A criação do primeiro hospício brasileiro está relacionada com o crescimento e o reordenamento 

da cidade (urbanização) e a necessidade de recolher os habitantes desviantes que perambulam pelas 
ruas: os desempregados (imigrantes principalmente, que não aceitam as condições de trabalho 
existentes), os mendigos, os órfãos, os marginais de todo o tipo e os loucos. Esses habitantes são 
recolhidos aos Asilos de Mendicância e de Órfãos, administrados pela Santa Casa de Misericórdia. 

Os loucos são colocados no mesmo espaço que os outros desviantes, sendo submetidos a maus-

tratos que frequentemente os levam à morte. Essa situação é motivo de crítica até que, em 1852 
é inaugurado no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, o Hospício Pedro II. Seguindo a tendência 
européia, da França principalmente, a loucura começa a ser encarada como doença e como tal, sujeita 
a tratamento médico. A criação do primeiro hospício no Brasil fornece à loucura o estatuto de doença, 
que se torna o objeto da nova especialidade médica - a Psiquiatria. 

No entanto, apesar da criação do hospício, continuam, por parte dos médicos, as críticas aos maus-

tratos e à ausência de cura dos doentes. O resultado dessas críticas, e o advento da Proclamação da 
República, leva à desanexação do hospício da Santa Casa em 1890. O poder das religiosas é, então, 
substituído pelo poder dos médicos. Os médicos consideram-se os únicos capazes de levar adiante a 
proposta terapêutica do hospício. 

Essa proposta terapêutica é o tratamento moral. Esse tratamento, compreende o isolamento e a 

vigilância dos internos, a organização do espaço terapêutico e a distribuição do tempo. 

O isolamento tem como objetivo separar o doente da sociedade e da família, consideradas em 

parte responsáveis pelo desenvolvimento da doença mental. 

A organização do espaço prevê a separação entre os sexos e entre os vários tipos de doentes. Por 

exemplo, existem os pacientes pensionistas e os indigentes. 

A distribuição do tempo prevê a terapêutica pelo trabalho. A prescrição do trabalho, rigorosamente 

indicado, é o principal elemento do tratamento moral. O trabalho é realizado em oficinas de costura, 
bordados, colchoaria, móveis, calçados ou jardinagem. Os doentes trabalham também como 
serventes nas obras, nos refeitórios e nas enfermarias. 

Outras modalidades terapêuticas aplicadas no hospício são a clinoterapia (repouso no leito) e a 

balneoterapia (tratamento pelos banhos). Nessa época, a atribuição básica do pessoal da enfermagem 
é a vigilância. A superpopulação do hospício e as críticas ao seu regime fechado – tipo prisão e à falta 
de resolutividade, isto é, as poucas altas entre os pacientes internados, levam a uma nova proposta 
terapêutica na assistência psiquiátrica brasileira: a do trabalho agrícola e em pequenas oficinas que 
vão servir de base para a criação das colônias agrícolas. O psiquiatra Juliano Moreira é um dos seus 
teóricos mais importantes.