9
Princípios de Dados e informação
R
E
G -
8
5
4.
3
2
4
- C
O
PY
R
IG
H
T - B
0
0
1
Vejamos o caso de informação recebida sem ser em forma de texto. A extensão para figuras,
som e animação é imediata. Uma figura contém informação se ela é compreensível, isto é, ao vê-la o
receptor pode associar conceitos aos seus elementos. Por exemplo, vendo uma foto de uma árvore
logo associamos a ela o conceito “árvore”, talvez ainda outro conceito como a sua espécie se está
florida, etc. É interessante observar o que ocorre com algumas figuras que provocam ilusão de óptica,
as quais contêm várias formas diferentes que não são vistas até que se associe a cada uma o seu
respectivo conceito. Um caso muito conhecido é o do vaso branco em fundo preto que pode ser
interpretado como representando duas faces pretas que se olham. Há pessoas que imediatamente
vêem as duas faces, outras o vaso; ambas precisam fazer um esforço mental para enxergar a outra
forma. No entanto, depois de vista, esta última torna-se tão clara quanto a inicial, e é um exercício
fascinante enxergar uma forma em seguida à outra, alternadamente. Nota-se perfeitamente que é
necessário trabalhar com o pensamento nesse processo, pensando-se “agora vou ver o vaso; agora
vou ver os rostos”. Assim, uma percepção sensorial só produz algo em nossa mente se conseguirmos
associar conceitos a ela, usando para isso nosso pensamento. Pessoas cegas de nascença que são
operadas simplesmente enxergam, por muito tempo, apenas manchas luminosas, o que em geral
provoca nelas enorme frustração. Elas não aprenderam a associar a percepção visual aos conceitos
dos objetos percebidos. Em termos do que foi exposto, pode-se dizer que uma pessoa assim só vê
dados, e não informação.
Segundo essa caracterização, informações podem ser obtidas sem que sejam transmitidas
sob forma de dados. Por exemplo, saindo de casa, uma pessoa pode sentir se está calor ou frio lá
fora. Nesta conceituação, ela não obteve dados sobre a temperatura – o que teria acontecido se
tivesse lido um termômetro – pois as percepções corporais de temperatura não são representações
simbólicas. Ela obteve uma informação. No entanto, ao contar a outra pessoa a sua impressão, não
estará transmitindo informação, mas dados – as palavras faladas, que podem ser quantificadas e
armazenadas como som ou texto. Essa outra pessoa absorve-os, e os transforma interiormente em
informação. Do mesmo modo, ao sentir uma dor em algum órgão interno, obtemos informação que
também não é transmitida sob forma de dados.
O que se processam são os dados que representam essas informações. O ser humano é capaz
de elaborar informações, por meio de associações de conceitos. Jamais se deveria dizer que um
ser humano processa informações: devemos deixar essa palavra para expressar o que fazem os
computadores com os dados. Isso por que não se sabe como o ser humano associa fisicamente
conceitos (conjeturo, por experiência pessoal, que essa associação nem seja física); no entanto, sabe-
se exatamente como um computador processa dados. Vamos deixar ao computador o que é do
computador, e ao ser humano o que é do ser humano, como já disse Norbert Wiener, o introdutor
da cibernética. Uma confusão nesse âmbito é extremamente perigosa, em particular do ponto de
vista educacional, pois pode induzir a idéia, absolutamente anti-científica, de que os seres humanos
são máquinas ou que os computadores agem como seres humanos. O perigo está no fato de não se
poder ter moral em nosso relacionamento com as máquinas: é uma aberração ter dó de desligar uma
máquina ou de deixar de dar-lhe manutenção. Obviamente, uma máquina pode ser usada de maneira
moral ou imoral, dependendo do uso que se faz dela em relação à natureza e aos seres humanos.
Os computadores e máquinas controladas por eles podem até imitar razoavelmente certas funções
humanas, como pegar um ovo atirado no ar ou jogar xadrez, mas é absolutamente certo que eles não
o fazem como nós o fazemos. No caso humano, qualquer processo interior envolve fatores que jamais
(minha conjetura) poderão ser introduzidos em uma máquina, como os psicológicos e os psíquicos.
Compreensão e significado dependem da capacidade de pensar, isto é, de associar percepções
e certos conceitos a outros conceitos. Nunca ninguém viu uma circunferência perfeita: esse é um
conceito puro, como o são todos os conceitos matemáticos. Pode-se supor que os conceitos estão no
mundo platônico das idéias, isto é, não existem fisicamente. No entanto, vendo uma forma redonda
regular, como a borda de um copo, logo associa-se essa forma a uma circunferência, apesar de ela não
ter rigorosamente essa forma. Associar percepções a elementos desse mundo não-físico por meio
do pensar é o que denomino dar significado ou compreender, processos essenciais na absorção de
informações e na cognição.
Portanto, tomar um dado como uma informação depende de um ser humano que o recebe e que
o interpreta, associando-o a um conceito conhecido. A tabela de temperaturas citada é uma coleção
de dados, podendo tornar-se uma coleção de informações se quem a recebe tem compreensão do
seu conteúdo.