Capítulo 1

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Não é possível processar informação diretamente em um computador. Para isso é necessário 

reduzi-la a dados. No nosso caso, “fascinante” teria que ser quantificado, usando-se, por exemplo, 
uma escala de zero a quatro. Mas então, a nosso ver, isto não seria mais informação.

A representação da informação pode eventualmente ser feita por meio de dados. Nesse caso, 

pode ser armazenada em um computador. Mas, atenção, o que é armazenado na máquina não é a 
informação, mas a sua representação em forma de dados. Essa representação pode ser transformada 
pela máquina - como na formatação de um texto - mas não o seu significado, já que este depende 
de quem está entrando em contato com a informação. Por outro lado, dados, desde que inteligíveis, 
são sempre incorporados por alguém como informação, porque os seres humanos (adultos) buscam 
constantemente por significação e entendimento. Quando se lê a frase “a temperatura média de Paris 
em dezembro é de 5

o

C”, é feita uma associação imediata com o frio, com o período do ano, com a 

cidade particular, etc. Note que “significação” não pode ser definida formalmente. Vamos considerá-
la aqui como uma associação mental com um conceito, tal como temperatura, Paris, etc. O mesmo 
acontece quando vemos um objeto com um certo formato e dizemos que ele é “circular”, associando 
- através do nosso pensamento - nossa representação mental do objeto percebido com o conceito 
“círculo”.

Uma distinção fundamental entre dado e informação é que o primeiro é puramente sintático 

e o segundo contém necessariamente semântico (implícita na palavra “significado” usada em sua 
caracterização). É interessante notar que é impossível introduzir semântica em um computador, 
porque a máquina mesma é puramente sintática (assim como a totalidade da matemática). Se 
examinássemos, por exemplo, o campo da assim chamada “semântica formal” das “linguagens” de 
programação, notaríamos que, de fato, trata-se apenas de sintaxe expressa através de uma teoria 
axiomática ou de associações matemáticas de seus elementos com operações realizadas por um 
computador (eventualmente abstrato). De fato, “linguagem de programação” é um abuso de 
linguagem, porque o que normalmente se chama de linguagem contém semântica. (Há alguns anos, 
em uma conferência pública, ouvimos Noam Chomsky - o pesquisador que estabeleceu em 1959 o 
campo das “linguagens formais” e que buscou intensivamente por “estruturas profundas” sintáticas 
na nossa linguagem e no cérebro -, dizer que uma linguagem de programação não é de forma 
alguma uma linguagem.) Outros abusos usados no campo da computação, ligados à semântica, 
são “memória” e “inteligência artificial”. Estamos em desacordo com o seu uso porque nos dão, por 
exemplo, a falsa impressão de que a nossa memória é equivalente em suas funções aos dispositivos 
de armazenamento computacional, ou vice-versa. John Searle, o autor da famosa alegoria do Quarto 
Chinês, demonstrando que os computadores não possuem qualquer entendimento, argumentou 
que os computadores não podem pensar porque lhes falta a nossa semântica.

Inspirados pela alegoria de Searle, vamos esclarecer um pouco mais os nossos conceitos. 

Suponhamos que temos uma tabela de nomes de cidades, meses (representados de 1 a 12) e 
temperaturas médias, de tal forma que os títulos das colunas e os nomes das cidades estão em chinês. 
Para alguém que não sabe nada de chinês nem de seus ideogramas, a tabela constitui-se de puros 
dados. Se a mesma tabela estivesse em português, seria informação, para brasileiros ou portugueses 
capazes de lê-la.

Consideremos inicialmente as informações que são mensagens recebidas sob forma de dados. 

Uma mensagem dessas torna-se informação se o seu receptor consegue compreender o seu 
conteúdo, isto é, associar a ela, mentalmente, um significado. Assim, se essa mensagem não for 
compreensível (por exemplo, escrita ou falada em uma língua desconhecida), ela não será uma 
informação, mas simples dados. Note-se que essa é uma caracterização, e não uma definição, pois 
estou considerando aqui uma acepção ingênua de “compreender” e “significado”; vou elaborar esses 
conceitos mais adiante. Um exemplo é uma tabela de nomes de cidades do mundo e temperaturas 
máxima e mínima ocorridas no dia anterior, como essas publicadas diariamente em alguns jornais. 
Essa tabela, que consiste de simples dados, é interpretada por um leitor como contendo uma porção 
de informações, pois ele é capaz de associar o nome de cada cidade com o conceito que faz dela, os 
graus de temperatura com o conceito que ele tem de frio ou calor, etc. Se essa tabela, com seus títulos 
e nomes de cidades, fosse vista por alguém que não conhece a língua em que foi escrita, e ainda em 
caracteres desconhecidos, como os ideogramas orientais para um ocidental, ela seria simplesmente 
um amontoado de dados. Eles poderiam ser reproduzidos, formatados, ordenados pelos nomes 
das cidades (dada uma seqüência alfabética das letras) ou pelos números representativos das 
temperaturas. Esses são processamentos típicos de dados.