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História da Radiologia
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Lenard, que realizou experiências para verificar se os raios catódicos podiam ser detectados fora do
tubo, foi possivelmente o que chegou mais próximo da descoberta, mas não se deu conta de que a radiação
observada seria uma mistura de raios catódicos e raios X, pensando trata-se apenas dos primeiros.
O fato de renomados cientistas não terem notado que estavam às voltas com um novo fenômeno
tem a ver com a dificuldade de se “observar” aquilo que não se espera teoricamente. Por outro lado, como
bem observou o conhecido historiador e filósofo da ciência Thomas S. Kuhn, é justamente a existência
de investigações guiadas por paradigmas (um conjunto de problemas, expectativas teóricas, métodos
e técnicas experimentais aceitas pelas comunidades científicas) que possibilita e mesmo conduz ao
surgimento de anomalias, ou seja, “falhas” na natureza em se conformar inteiramente ao esperado.
A Röntgen cabe o mérito de ter “visto” aquilo que outros “olharam” mas não perceberam e de
ter concentrado seus esforços e habilidades na investigação do novo fenômeno, cujas repercussões
fizeram-se sentir de forma imediata e estrondosa. Não sem razão , portanto, foi lhe atribuído o
primeiro Prêmio Nobel de Física, no ano de 1901.
Em sua primeira comunicação - Sobre Um Novo Tipo de Raios, uma comunicação preliminar -
publicada em dezembro de 1895, na Alemanha, Röntgen escreveu:
“a mais impressionante característica desse fenômeno está no fato de que um agente ativo (RX)
aqui passa através de um cartão preto o qual é opaco aos raios ultra-violeta e visíveis provenientes
do sol ou do ARCO ELÉTRICO. Este agente também tem o poder de produzir uma ativa fluorescência,
então resolvemos primeiro investigar a questão sobre quais os outros corpos que também possuíam
essa propriedade.
Descobrimos que todos os corpos são transparentes a esse agente, mesmo em graus muito
diferentes”
Röntgen experimentou o efeito dessa radiação em vários corpos, de materiais com espessuras e
características diferentes: papel, um livro de aproximadamente 1000 páginas, folhas de latão, grossos
blocos de madeira, placas de alumínio, placas de borracha. Esses materiais e alguns outros são, em
maior ou menor grau, transparentes aos Raios X. Mas,
“...Placas de vidro de mesma espessura comportam-se de modo um pouco diferente caso tenham
uma camada de chumbo ou não; as primeiras são muito menos transparentes que as últimas. Se a
mão é colocada entre o tubo e a tela, a sombra escura dos ossos é vista dentro de uma sombra mas
clara da mão propriamente dita (...) os resultados das experiências (...) conduzem à conclusão que a
transparência das várias substâncias, para a mesma espessura, depende sobretudo da DENSIDADE
dos corpos...”
As notícias já podiam correr mundo rapidamente com a melhoria das comunicações. O Brasil
recebeu bem precocemente a notícia da descoberta.
1.4 - Mas Como são Produzidos os Raios X?
Hoje sabemos que os chamados raios catódicos são constituídos por elétrons de alta energia
emitidos pelo catodo. Ao se chocarem violentamente com o anodo, os elétrons são rapidamente
desacelerados. Pelo princípio da conservação da energia, a energia cinética perdida por cada elétron
nessa colisão é convertida em energia radiante radiação eletromagnética de alta freqüência conhecida
como raios X.
Desde a época de Röntgen, a questão de identificar a natureza dos raios X e da sua produção
estava colocada.
Em seus primeiros passos para identificar a natureza dos raios X, ele usou um sistema de fendas
para mostrar que os raios X se propagam em linha reta e não possuem carga elétrica, pois não são
desviados pela ação de campos elétricos ou magnéticos. Este comportamento é muito semelhante
ao da luz visível e não poderia ser diferente, pois se trata de radiação eletromagnética como aquela.
A teoria eletromagnética clássica dava conta de explicar o fenômeno ao menos parcialmente, porque
já se sabia que cargas elétricas aceleradas (neste caso com aceleração negativa, ou desaceleração)
emitem radiação eletromagnética.
Entretanto, Röntgen não observou o fenômeno da DIFRAÇÃO, já que seu sistema de fendas tinha
dimensões muito maiores que o comprimento de onda associado aos raios X.
Mais tarde, em 1905, C. G. Barkla realizou experimentos sobre ESPALHAMENTO dos raios X, isto é,
o resultado da colisão destes raios com os átomos da rede cristalina de uma determinada substância.