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A Necessidade de Sistemas
Sustentáveis de Produção de Alimentos
Em escala global, a agricultura tem sido muito bem-sucedida, satisfazendo uma demanda
crescente de alimentos durante a última metade do século XX. O rendimento de grãos básicos,
como trigo e arroz, aumentou enormemente, os preços dos alimentos caíram, a taxa de aumento
da produção de alimentos excedeu, em geral, à taxa de crescimento populacional, e a fome crônica
diminuiu. Esse impulso na produção de alimentos deveu-se, principalmente, a avanços científicos
e inovações tecnológicas, incluindo o desenvolvimento de novas variedades de plantas, o uso de
fertilizantes e agrotóxicos, e o crescimento de grandes infra-estruturas de irrigação.
A despeito de seus sucessos, contudo, nosso sistema de produção global de alimentos está no
processo de minar a própria fundação sobre a qual foi construído. As técnicas, inovações, práticas
e políticas que permitiram aumentos na produtividade também minaram a sua base. Elas retiraram
excessivamente e degradaram os recursos naturais dos quais a agricultura depende - o solo, reservas
de água e a diversidade genética natural. Também criaram dependência de combustíveis fósseis não
renováveis e ajudaram a forjar um sistema que cada vez mais retira a responsabilidade de cultivar
alimentos das mãos de produtores e assalariados agrícolas, que estão na melhor posição para serem
os guardiões da terra agricultável. Em resumo, a agricultura moderna é insustentável - ela não pode
continuar a produzir comida suficiente para a população global, a longo prazo, porque deteriora as
condições que a tomam possível.
4.1 - Práticas da Agricultura Convencional
A agricultura convencional está construída em tomo de dois objetivos que se relacionam: a
maximização da produção e a do lucro. Na busca dessas metas, um rol de práticas foi desenvolvido
sem cuidar suas conseqüências não intencionais, de longo prazo, e sem considerar a dinâmica
ecológica dos agroecossistemas. Seis práticas básicas - cultivo intensivo do solo, monocultura,
irrigação, aplicação de fertilizante inorgânico, controle químico de pragas e manipulação genética
de plantas cultivadas - formam a espinha dorsal da agricultura moderna. Cada uma é usada por sua
contribuição individual à produtividade, mas, como um todo, formam um sistema no qual cada uma
depende das outras e reforça a necessidade de usá-Ias.
Essas práticas são, também, integradas em uma estrutura com sua lógica particular. A produção de
alimentos é tratada como um processo industrial no qual as plantas assumem o papel de fábricas em
miniatura: sua produção é maximizada pelo aporte dos insumos apropriados, sua eficiência produtiva
é aumentada pela manipulação dos seus genes, e o solo simplesmente é o meio no qual suas raízes
ficam ancoradas.
4.1.1 - Cultivo intensivo do solo
A agricultura convencional há muito se baseia na prática de cultivar o solo completa, profunda
e regularmente. O propósito desse manejo intensivo é afofar sua estrutura para permitir melhor
drenagem, o crescimento mais rápido de raízes, a aeração e semeadura mais fácil. Também é usado
para controlar ervas adventícias3 e incorporar os resíduos das colheitas. Em práticas típicas - ou seja,
quando o preparo intensivo do solo é combinado com rotações de curta duração, as áreas são aradas
ou cultivadas diversas vezes durante o ano e, em muitos casos, isto o deixa sem qualquer cobertura
por longos períodos. Também significa que maquinaria pesada passa regular e freqüentemente
sobre ele.
Ironicamente, o cultivo intensivo tende a degradar a qualidade do solo de diversas maneiras.
A matéria orgânica é reduzida, como resultado da falta de cobertura, e o solo é compactado pelo
trânsito repetitivo das máquinas. A perda de matéria orgânica reduz a fertilidade do solo e degrada sua
estrutura, aumentando a probabilidade de mais compactação e tomando o cultivo e suas melhorias
temporárias ainda mais necessários. O cultivo intensivo também aumenta acentuadamente as taxas
de erosão do solo por água e vento.